Deolinda

Ainda bem que o tempo passou e o amor que acabou não saiu. Ainda bem que há um fado qualquer que diz tudo o que a vida não diz. Ainda bem que Lisboa não é a cidade perfeita p'ra nós. Ainda bem que há um beco qualquer que dá eco a quem nunca tem voz.

Já sou quem tu queres que eu seja Tenho emprego e uma vida normal Mas quando acordo e não sei quem eu sou, quem me tornei O teu bem faz-me tão Já me enquadro na tua estrutura Não ofendo a tua moral Mas quando me impões o meu bem eu ainda sinto aquém

Tenho vontade de seguir uma outra via Mas eu desisto Tenho vontade de mudar a minha vida Mas não arrisco E deixe-me andar, e deixe-me andar Aqui vai sentada Braços cruzados pernas trançadas E deixe-me estar que essa vontade Um dia há-de passar Tenho

Nós havemos de nos ver os dois ver no que isto dá ficar um pouco mais a conversar Ter a eternidade para nós Quem sabe, jantar, Se tu quiseres pode ser hoje Tem de acontecer, porque tem de ser e o que tem de ser tem muita força E sei que vai ser, porq

Olha a banda filarmónica, a tocar na minha rua. Vai na banda o meu amor a soprar a sua tuba. Ele já tocou trombone, clarinete e ferrinhos, só lhe falta o meu nome suspirado aos meus ouvidos. Toda a gente - fon-fon-fon-fon - só desdizem o que eu digo:

Proibissem a saudade de cantar, havia de ser bonito! Entre os versos da canção mais popular lá ia o dito por não dito. E as guitarras, sob escuta, na batuta de outras modas, escondem no trinar das cordas o pesar... E o poeta, vigiado, forçado ao asso